Homeworld – Yes

16 07 2009
Kepler imaginou que encontraria a força divina em suas observações, mesmo a negação de suas crenças não o fez desistir

Kepler imaginou que encontraria a força divina em suas observações, mesmo a negação de suas crenças não o fez desistir

Finalmente vou poder fazer uso da minha banda predileta. Aquela que eu gosto de ouvir sempre que fico nervoso, irritado ou pensativo. A maioria das músicas do Yes, não possuem, digamos assim, um sentido muito claro para alguém declaradamente cético como eu. As músicas são em geral bastante pautadas em cima do fantástico, só falta citarem gnomos e fadas em versos soltos bastante Nova Era. Entretanto as melodias produzidas me fascinam. Gosto de ouvir mesmo. E justamente para o que eu quero falar hoje uma das músicas serve perfeitamente.

O personagem de hoje é Kepler, matemático e astrônomo/astrólogo alemão que viveu entre os séculos XVI e XVII. Ficou famoso por formular as 3 leis fundamentais da mecânica celeste. Sua história sempre me fascinou, a ponto de eu fazer dele um de meus ídolos. Isso, graças a forma como ele chegou em sua principal descoberta, a forma como ele viveu.

Justamente por isso Homeworld do Yes (clique aqui para ouvir a música). A letra fala da busca por uma luz verdadeira. Justamente uma busca parecida com a que Kepler teve. Eu, em brincadeiras com amigos comento que gosto do Kepler por ele ser o cara mais “zicado” da história da ciência. Pela versão de sua vida que eu ouvi de uma professora de física no colegial (hoje chamado ensino médio), Kepler foi alguém que sempre se deu mal em sua vida, mas nunca desistiu e até sua maior vitória lhe trouxe dor, pois derrubou aquilo que ele acreditava.

Kepler era um protestante que perdeu emprego num mundo onde católicos e protestantes brigavam. Perambulou até chegar a Tycho Brahe, uma pessoa que ele não gostava (segundo a versão que ouvi e agora repasso). Com a morte de Brahe, um exímio observador apesar de seu comportamento questionável, ele acabou recebendo seus dados e com as observações de Marte conseguiu perceber que a órbita desse planeta é uma elipse.

Ai está a grande perda de Kepler. Uma de suas frases é “Os céus contemplam a glória de Deus.” Ele acreditava cegamente que pelo fato da circunferência ser a forma geométrica perfeita, Deus só poderia fazer com que as órbitas de todos os planetas fossem também circunferências, pois seriam a representação da força divina.

Ainda pelo que conheço da história de Kepler, ele sofreu em diversas outras áreas de sua vida. Teve problemas de pele, sua mãe foi acusada de bruxaria e viu seus entes mais próximos morrerem, fora a perseguição religiosa que sofreu. Mesmo com tudo contra ele ainda conseguiu produzir muita coisa e seguir a sua vida.

Ter publicado seus dados mesmo sendo algo muito doloroso para si, pois mexia com aquilo que lhe era mais caro (sua crença), faz de Kepler um herói para mim. Ele entra no rol dos personagens estilo super-heróis antigos, que fazem as coisas que tem que ser feitas, independente sofrerem por isso. Essa postura é algo que eu busco, tento fazer aquilo que acredito ser certo, mesmo que respingue em mim, confesso que nem sempre consigo.

É claro que muitos biógrafos dizem que ele era uma pessoa de difícil trato, chato pra caramba pra ser mais honesto, que como professor era péssimo e talvez a perda do emprego por motivos religiosos tenha sido bom para seus alunos de matemática. Claro também que sou o oposto dele, eu sou cético e ele era um religioso fervoroso, além de acreditar na astrologia, algo que confesso não me atrai. É correto também, afirmar que em sua época todos os astrônomos eram também astrólogos e fazer previsões para os reis era uma de suas atribuições.

Porém, eu reitero o que já disse em outros posts, transformo em ídolos pessoas por pequenas coisas, cada um tem algo a ser visto com ótimos olhos. No caso de Kepler, o sentido de dever, algo que busco sempre conseguir. Continuo esperando os ídolos de vocês que visitam este blog. No domingo falarei de outro cientista.